Resenha: Yesterday Was Forever - Kate Nash


A maioria das garotas das décadas passadas sempre tinham, na sua pré-adolescência ou adolescência, aquele famoso caderno no qual anotavam seus segredos, anseios e os acontecimentos do dia a dia, guardando-o à sete chaves, pois temiam que alguém o lesse. Bem, com a internet, hoje isso não é mais tão comum, mas, para Kate Nash, os diários que escreveu ainda quando adolescente tornaram-se bases para as composições do seu quarto disco de inéditas, Yesterday Was Forever (2018). Livrando-se dos acanhamentos juvenis, a britânica conta as histórias dos seus amores febris da juventude, das suas inseguranças e de outros sentimentos típicos dessa fase.

Para quem já conhece o trabalho da cantora, o novo álbum soa como um hibridismo da ingênua e fofa Kate dos álbuns Made of Bricks (2007) e My Best Friend is You (2010) com sua faceta revoltosa e de riot grrl presente em Girl Talk (2013). Life In Pink, primeira faixa do álbum, é um dos exemplos dessa mistura. Em seus minutos iniciais, Nash canta de forma mansa, acompanhada por um violão e uma bateria comportada, até que a faixa é tomada pelos riffs de guitarra e os vocais rasgados da interprete. 

O ponto forte deste disco fica para letras, as quais Nash consegue transmitir de forma assertiva essa atmosfera juvenil que preocupou-se em construir. Em Take Away, por exemplo, tudo que a britânica quer é sair do tédio e da solidão caseira para estar com quem é o alvo dos seus sentimentos arrebatadores; em Body Heart ela encontra no amor uma forma de enfrentar as adversidades do cotidiano; e em California Poppies ela se vê presa na incerteza de estar sendo correspondida sentimentalmente.

Por outro lado, o novo trabalho não acompanha a linha evolutiva que os registros anteriores da cantora vinham apresentando. Não há inovações aqui. O catálogo de 14 canções soa com tudo o que Nash já experimentou, desde riffs revoltosos, piano e teclados coloridos e sintetizadores. Faixas como Always Shining relembram a mesma ingenuidade de You're So Cool, I'm So Freaky (Girl Talk) e até soa como uma versão amadora e genérica de Bird (Made of Bricks); Musical Theatre segue a mesma fórmula das canções-narrativas de Nash como Masion Song (My Best Friend is You) e One Eye (Agenda - EP). Tal deslize deixa Yesterday Was Forever sem um elemento ou um conceito que o destaque dos demais registros da discografia da cantora. 

Porém, há momentos que Kate consegue surpreender, ainda que por poucos minutos. Karoke Kiss, uma das melhores faixas do disco, embala o ouvinte em sintetizadores e batidas que flertam com a new wave, entregando uma canção dançante, de letra um tanto quanto obscura, na qual a britânica busca por sensações efêmeras a fim de fugir de sentimentos negativos. 

Fruto de um campanha online para a arrecadação de fundos para produção do disco, Yesterday Was Forever é álbum estagnado, que pouquíssimo agrega na discografia de Nash. Ainda que trabalhe com algumas propostas e conceitos de outrora, a britânica nada lembra a artista de humor seco dos primeiros discos ou da riot grrl de Girl Talk. O que resta é esperar que Kate Nash possa encontrar novos caminhos e inspirações para alimentar seus futuros trabalhos. 

Nota: 5
Faixas: 14
Gravadora: Girl Gang


0 comentários:

Postar um comentário