Resenha: Rihanna - ANTI


Após três anos de hiato, a cantora Rihanna finalmente lança o seu tão aguardado disco de inéditas intitulado "Anti", oitavo disco de sua carreira. Antecedido pelo decepcionante "Talk That Talk" (2011) e o regular "Unapologetic" (2012), discos que se sustentam em batidões eletrônicos da EDM e pelo Dubstep, proporcionando aos fãs e admiradores da cantora uma enxurrada de hits pop explosivos que dominaram os charts e as pistas de dança do mundo inteiro. Entretanto, em "Anti", a cantora se desprende dessa zona de conforto que há tempos vem se firmando, buscando um trabalho que não se resuma apenas ao um catálogo de músicas pop avulsas com o exclusivo propósito de estourar nas rádios e paradas de sucesso, mas um registro coeso, que fuja da previsibilidade e apresente composições verdadeiras e mais profundas. 

Não espere por refrões pegajosos, batidões eletrônicos ou qualquer dos elementos comerciais tão presentes nos registros anteriores de Rihanna. "Anti" é uma completa ruptura com tudo isso, como o próprio nome já diz. Aqui a cantora de Barbados e seus produtores apresentam um catálogo ousado, que arrisca em experimentar fórmulas diferentes e sonoridades quase exóticas para quem a  acompanha desde "Good Girl Gone Bad" (2007). São 13 faixas que mantém o Hip-Hop e o R&B característico de Rihanna, mas embrulhados em propostas diferentes a cada faixa, seja na pegada mais robusta em "Consideration" ou na lentidão em "Yeah, I Said It".

Contudo, um dos pontos fortes desse disco fica para as composições, que fogem da superficialidade e da trivialidade presentes em seus registros anteriores. Rihanna preenche seu novo catálogo de inéditas com fragmentos de sentimentos e confissões controversas, que embalam o disco em um misto de algo sombrio, sensível e sexual. Enquanto em "Needed Me" a cantora aborda sobre autonomia que tem sobre seu corpo e fala abertamente de sua vida sexual, em "Love On The Brain" Rihanna confessa estar um relacionamento abusivo, mostrando sua fragilidade.

Mas nem tudo são flores nesse novo disco. Apesar de sua disposição em criar algo diferente e enriquecido, Rihanna ainda comete alguns tropeços, o que causa uma certa decepção. A primeira parte do disco começa assertiva, como a já falada "Consideration", parceria com SZA, seguido pela sintética "James Joint" e finalizando com ousada "Kiss It Better", uma canção que se alimenta das mesmas batidas presentes em singles como "Pour It Up", mas acompanhadas por riffs tortuosos de guitarra. Todavia, "Work", parceria com Drake, mostra que a cantora ainda precisa de muito para construir um produto criativo. A canção tem seus momentos iniciais empolgantes, mas, ao decorrer de seus 3 minutos e 39 segundos, não desenvolve, continua em uma preguiçosa repetição de batidas e versos. O que poderia ser uma boa oportunidade de entregar ao público uma dose a mais de Rihanna e Drake, que já vimos na ótima "What's My Name?", numa versão bem mais ousada e trabalhada, torna-se um faixa morna que mais serve de tapa buraco nesse disco. Além de "Work", "Yeah, I Said It" comete o mesmo erro. Toda a lentidão da melodia e a atmosfera quase anuviada são mal exploradas, seguindo numa linearidade sem desenvolvimento e insípida, tornando-se uma canção desinteressante, longe de se enquadrar com a letargia tão bem trabalhada em "Z" (2014) da SZA. E o que dizer da faixa "Same Ol Mistakes"? Um cover da canção  "New Person, Some Old Mistakes" da banda de rock psicodélico Tame Impala. Com certeza, é a faixa mais confusa do disco, pois além de fugir da sonoridade presente em "Anti", não há nada de novo no arranjo, é o mesmo da canção original. Para quem esperava uma versão excitante e diferente, bem ao estilo Rihanna, para a canção do Tame Impala, acabou ouvindo mais do mesmo.   

Entretanto, é nos minutos finais que "Anti" consegue surpreender. São os momentos mais sensíveis e frágeis do disco. "Love On The Brain" resgata a atmosfera da black music das décadas de 50 e 60, enquanto "Higher", com samples de "Beside You" do grupo instrumental de Jazz e Soul The Soulful Strings, traz um melancólico violino. São faixas onde Rihanna expõem toda sua fragilidade, seja pela confissão dos abusos sofridos ou por uma declaração de amor desesperada e chapada. Aqui, ela se encontra em desespero, ébria e com os sentimentos à flor da pele, mergulhada em uma melancolia quase palpável, sensações muito bem transmitidas por seus vocais, que reafirmam o talento vocal da cantora. "Close To You" é outro destaque desta parte final, fechando o disco com a mesma melancolia e sentimentalismo das faixas anteriores, mas de uma forma sóbria e mais introspectiva.

Em seu novo disco, Rihanna foi em busca de algo mais original, coeso e profundo, numa tentativa de se soltar das amarras do mercado musical, que impõe, para seus artistas, uma série de fórmulas repetitivas e sem originalidade, mas assertivas para os charts e rádios. "Anti" está longe de se enquadrar como um produto coeso e assertivo, como obras de outros grandes nomes da música pop como "4" (2011) e "Beyoncé" (2013) da cantora Beyoncé ou como "Emotion" (2015) de Carly Rae Jepsen. Há tropeços que fazem o álbum  soar como uma obra mal acabada, lançada às pressas para acalmar a ansiedade do fãs que já esperavam por algo novo há muito tempo. Entretanto, ao todo, o oitavo disco de Rihanna não se enquadra em algo preguiçoso ou cômodo, mas em uma transição lenta de uma artista que, aos poucos, abre seus olhos para uma gama de novas possibilidades e fórmulas que pode testar, permitindo-se conhecer ainda mais o seu lado artístico para transmitir isso ao público, através de seus trabalhos, de uma forma sincera. "Anti" é o desabrochar de Rihanna para sua autonomia artística, na busca de obras que dialoguem com seus próprios sentimentos e anseios e não mais para alimentar o grande mercado da música pop e as paradas de sucesso.



Nota: 6.5
Gravadora: Roc Nation
Faixas: 13
Ouça: Deezer - Spotify






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