Degustando Sonoridades: Três álbuns lançados em 2015 e que você nem fazia ideia



O ano finalmente acabou! Olha só, estamos em 2016, embora pareça que não. É como se alguém repentinamente tivesse inventado um mês 13, incluído no calendário do ano passado e, assim, continuamos presos em 2015 achando estarmos em 2016 (Bem idiota, né? OK. Eu sei disso). Deixando essa teoria conspiratória boba de lado, vamos falar do que interessa.

O ano de 2015 foi bem produtivo para o mundo da música, desde lançamentos de singles pegajosos até álbuns loucamente aguardados pelos fãs de música. Tivemos o grudento-viciante-pegajoso-delicioso single "Hotline Bling" do Drake, que foi lançado no segundo semestre do ano, mas dominou os Charts e, de quebra, foi a faixa mais executada do ano no Spotify. Além dessa delícia, o Tame Impala nos presentou com seu aguardado terceiro álbum de estúdio, o "Currents", que, para mim, foi um dos melhores álbuns do ano. Tivemos também o lançamento de "Art Angels" da Grimes, bastante aguardado, afinal, a cantora havia descartado um álbum inteiro e recomeçado tudo do zero. Embora pareça radical essa atitude, eu, após ouvir "Art Angels", o álbum que ela produziu após ter descartado o anterior, não a perdoaria se ele não fosse lançado. E, claro, o ano de 2015 foi dele, do Kendrick Lamar e seu álbum "To Pimp A Butterfly". O álbum foi um dos mais aclamados pela crítica e liderou diversas listas de melhores álbuns de 2015 em sites e blogs especializados em música. E não para por aí não, o cara, merecidamente, teve 11 indicações ao Grammy de 2016 e, dessa vez, acredito que ele ganhe não só pela brilhante obra que é seu disco mas também pela injustiça sofrida no Grammy de 2014, no qual perdeu injustamente nas categorias "Melhor Álbum de Hip-Hop/Rap" e "Revelação do Ano" para a dupla BRANCA Macklemore & Ryan Lewis.

Mas isso tudo você já sabe, não é? Sabe também que Florence and the Machine lançou álbum, que o Father John Misty também, a Selena Gomez também... Enfim. Entretanto, vamos continuar um pouco mais em 2015 e, aproveitando que ainda estamos no começo de 2016, listar três álbuns lançados no ano passado que você, provavelmente, nem fazia ideia, mas que merecem, com certeza, sua atenção.


  • Natalie Prass - "Natalie Prass"


Natalie Prass é uma cantora e compositora norte-americana de country alternativo. Ela começou sua carreira no mundo da música sendo tecladista para Jenny Lewis. Além disso, ela também passou por duas faculdades de música, desistindo na primeira, a Beck College of Music, mas prosseguiu seus estudos na Tennesse State University (Talvez, você deve nem fazer ideia que faculdades são essas, pois eu também não, mas é importante ressaltar o currículo de um musicista).

Seu primeiro álbum, que leva o seu nome, foi lançado no começo de 2015, em meados do fim de janeiro e começo de fevereiro, pelo selo Spacebomb. O disco já estava pronto há dois anos, mas o adiamento de seu lançamento foi devido ao lançamento de outro disco também lançado pela Spacebomb, que acabou voltando todo seu trabalho para esse, deixado o de Natalie na gaveta. Mas tudo isso acabou sendo positivo, pois Natalie teve tempo de aperfeiçoar sua obra.

"Natalie Prass" é um disco que soa tão delicado, sensível e apaixonante, seja pela voz doce da cantora ou pela suavidade do arranjo, mas não se engane, pois ele é amargo. "My Baby Don't Understand Me", faixa que abre o disco, já mostra ao ouvinte a riqueza de instrumentos que estão presentes em cada arranjo desse álbum, desde instrumentos de sopro, como flauta e saxofone, aos de corda, violino, guitarra e baixo, e até o piano. Tudo isso é montado de uma forma tão harmônica e suspirante que soa como se Natalie estivesse declarando seu amor por alguém, mas, na verdade, ela está resgatando dores do passado. 

O primeiro disco de Prass é um mergulho em suas memórias amargas, de experiências amorosas, que outrora, a causaram dor. Suas composições mostram sua fragilidade, seja pelas promessas amorosas não cumpridas e o desprezo sofrido, cantados em "Your Fool", a dor com o fim do relacionamento, em "Why Don't You Belive Me?", ou a fracassada tentativa de esquecer o amado que a deixou, em "Never Over You". São pedaços amargos vividos por Natalie e emoldurados em forma de música, numa tentativa de imortalizar tudo que sentiu. Entretanto, todos esses sentimentos internalizados são passados ao ouvinte como presentes embalados em melodias alegres e doces, como em "Bird of Prey", dando a sensação de que tais lembranças não machucam mais Natalie (e, também, o risinho no final da já falada "Your Fool" deixa essa impressão). Mas não se engane pela alegria do piano, ou pela harmonia dos arranjos de corda, pois há sofrimento por trás de toda esses adornos. 

Pode parecer sadista e uma enorme falta de empatia com Natalie, mas ouvir as nove faixas que preenchem esse álbum é extremamente prazeroso. A norte-americana mistura toda a delicadeza do seu country alternativo com gêneros como o soul e o folk, com boas doses de pop, o que torna seus versos melancólicos em verdadeiros chicletes. A cantora ainda traz boas surpresas: "Christy", quarta faixa do disco, com sua linha folk, é uma viagem a um universo fantástico de fadas e outros seres mágicos, é uma canção que poderia entrar facilmente em qualquer soundtrack de algum filme de ficção-fantástica, como "As Crônicas de Nárnia", por exemplo. Há também "It Is You", faixa que encerra o disco, uma verdadeira valsa que lembra as nostálgicas e encantadoras trilha sonoras dos filmes da Disney.

Mesmo como sua veia pop, o disco concilia muito bem os vocais de Prass com o instrumental, não há mais destaque para sua voz em detrimento ao opulento número de instrumentos que compõem o arranjo, característica muito presente em músicas desse gênero. Assim, a norte-americana constrói um casamento assertivo, entre voz e instrumentos, para criar uma obra verdadeira, carregada de sentimentos dolorosos, de fragilidade, mas com uma boa dose de doçura.




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  • F(x) - "4Walls"

Para quem não sabe, F(x) é uma girlband sul-coreana que... Bem, antes da apresentação, é necessário pontuar que não, essa band não se chama F de X, como na função da matemática, mas sim "éf  écs" (É bom pontuar isso antes de tudo!). Voltando a apresentação: F(x) é uma girlband sul-coreana formada originalmente por cinco garotas (Luna, Amber, Krystal, Victoria, e Sulli). As garotas são agenciadas pela SM Entertainment (Equivalente à gravadora/selo, como aqui no ocidente) e debutaram no ano de 2009. Desde o debut, as cinco integrantes lançaram cerca de dois EPs e três álbuns, todavia, foi anunciado em julho do ano passado a saída de uma das integrantes, a Sulli. A SM Entertainment já havia passado pela mesma situação alguns meses antes, quando uma integrante do grupo Girl's Generation resolveu sair também, mas, nesse caso, a saída da integrante não causou muito dano para a estabilidade comercial do grupo, que é um dos mais populares na Coreia. Entretanto, no caso das F(x), era bem diferente, afinal, Sulli era, digamos, o rostinho do grupo, a mais amada e adorada pelos fãs, além de que o grupo não possuía, ainda, uma destaque e uma imponência tão grande como as Girl's Generation. Será que as F(x) sobreviveriam a perda de Sulli? Será que o grupo iria continuar vendendo? Será que o grupo iria... Essas e outras perguntavas rodavam intensamente na cabeça dos fãs de música coreana. Mas, felizmente, a saída de Sulli foi a melhor coisa que podia ter acontecido ao grupo (desculpa aí, fãs da Sulli!).
            
"4Walls" é o quarto álbum do girl-grupo, e o primeiro com apenas quatro integrantes da formação original. Bem, o nome do álbum é bem sugestivo e já sabemos o porquê. Você poderia dizer que essa foi uma jogada de marketing bem oportunista da agência das garotas (e eu concordo com você), porém, ao ouvir as dez faixas presentes no disco, você esquece completamente esse detalhe. Um dos principais responsáveis por isso é a faixa de abertura do disco e também o primeiro single de divulgação desse novo trabalho, a faixa-título "4Walls". O single é um sedutor deep-house que mais soa como algo lançado pelo Clean Bandit, mas, claro, sem aquela pegada erudita com o violino e violoncelo. Aqui, os poucos mais de três minutos e meio são dominados pelas batidas que vão crescendo nos segundos iniciais e se solidificando linearmente pela canção, sem exageros e excessos, tudo muito bem dosado. É legal ver também, graças ao número de integrantes reduzido, os versos sendo distribuídos de forma bem mais justa, sem que uma integrante domine mais a canção do que outra, o que acaba dando um colorido maior a música, por conta da variação de vocais.

Mas não é só o single que se destaca nesse disco. A SM Entertainment vem desde "Electric Shock" (2012), segundo EP das meninas, experimentando e incorporando uma série de fórmulas na sonoridade do grupo, numa tentativa de diferenciar o som da band em relação a outros grupos de pop coreano. "Pink Tape" (2013) e "Red Ligth" (2014), respectivamente segundo e terceiro álbum, incorporam mais intensamente essa proposta, enquanto um traz um single que funde o eletrônico com o samba brasileiro, o outro brinca de experimentalismo eletrônico. Ambos constroem a imagem e o som do grupo, um misto de batidas eletrônicas contagiantes com uma pitada de algo bizarro e estranho (Entretanto, no novo álbum, o bizarro e estranho tenham sido deixados de lado). São esses registros que dão base ao quarto álbum do grupo, um mergulho intenso no que há de melhor da EDM, além de trazer faixas que passeiam pelo dubstep ("Cash Me Out", por exemplo) e pela world music ("Diamond"). Há ainda no disco uma dose extra de deep-house na faixa "Rude Love" e algumas outras faixas que amenizam o catálogo eletrizante de batidas, como "Traveler", por exemplo, e mesmo quando tudo parece indicar que vem uma baladinha piegas por aí, como em "When I'm Alone", novamente somos jogados nas batidas e arranjos sintéticos que dominam o álbum.

É assim que "4Walls" foge do som um tanto quanto peculiar do grupo, como, por exemplo, na faixa "Showdown" do disco "Pink Tape", que mais parece uma bizarra canção de alguma caixinha de música macabra (e isso não quer dizer que ela é ruim, pois ela não é), mas mantém o eletrônico testado desde o EP "Electric Shock". Assim, o novo disco marca o amadurecimento de um grupo que, há tempos, servia apenas como plano de fundo para a sua agência e que, enfim, conseguiu seu devido destaque.




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  • Citizens! - "European Soul"

Citizens! é uma banda londrina de música indie formada por cinco caras (Martyn, Mike, Thom, Lawrence e Tom). O som deles é uma mistura de pop/rock bem dançante com uma pegada eletrônica (O que torna tudo mais gostoso, né?). E foi nessa mistura que seu primeiro disco, "True Romance" (2012), saiu do forno. Mas o mais legal de tudo isso é que o disco debut dos londrinos foi produzido por, saca só, o Alex Kapranos, vocalista do Franz Ferdinand. E Alex conseguiu, de forma assertiva, dá boas lapidadas no som dos rapazes. "True Romance" é disco repleto de riffs de guitarras viciantes, uma bateria contagiosa, teclado e um sintetizador que dão um toque bem gostoso as faixas que preenchem o disco (Vale a pena uma escutada depois). Um som que lembra um pouco o do Fraz, mas só lembra mesmo, pois o Citizens! conseguem imprimir sua própria identidade. 

Apesar de tudo isso, a banda praticamente não tem nenhum destaque ou menções relevantes nos blogs e sites brasileiros especializados em música indie/independente, o som deles passa quase despercebido por aqui. E não foi diferente com o segundo álbum deles, lançado ano passado, em meados de Abril, o "European Soul". Você, provavelmente, não irá achar nenhuma resenha sobre o disco pelos sites brasileiros, mas eu vou contar um pouco sobre ele para você.

Como já falei, "European Soul" foi lançado em Abril do ano passado, mas, dessa vez, a produção não conta mais com o Alex e sim com o George Reid, integrante da dupla eletrônica AlunaGeorge. E para quem conhece o som da dupla, já deve imaginar os caminhos que o Citizens! percorrem no novo álbum.  Aqui, no segundo álbum, os londrinos se entregam mais ainda ao eletrônico, os sintetizadores, que no primeiro álbum ficavam mais em segundo plano, dessa vez, recebem seu merecido destaque, dividindo espaço com os riffs da guitarra.

É assim que o catálogo de canções do novo disco dos caras se constrói, entre sintetizadores bem destacados e riffs de guitarra contagiantes. Além disso, o disco possui uma produção melhor que anterior, com faixas que parecem se revestir de fragmentos dos 1980, brincando com a new wave, o synthpop e até o groove. Por isso, "European Soul" se mostra uma obra mais refinada, com a banda entregue ao um som mais pop e dançante, com faixas que grudam no ouvido desda primeira audição e que se tornam difíceis de não se viciar. 

O álbum finaliza reafirmando a imagem da banda, algo mais despojado e retrô. E isso se percebe desde os singles "Lighten Up", "Waiting For Your Love" e "My Kind Of Girl", canções que parecem ter saído dos anos oitenta, mas remasterizados em uma roupagem mais moderna. Além disso, o álbum oferece ao ouvinte canções altamente dançante, como "Brick Wall" , ou mais grudentas, como "European Girl". 

Aqui, um dos ingredientes principais, a cereja do bolo, que torna essas canções, e as outras que completam o disco, tão atrativas e viciantes, além de reforçar mais ainda a identidade e o som da banda, são os sintetizadores tão presentes em todas elas.  




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