No ano marcado por discursos e atos de ódio devido às eleições, a música brasileira mostrou-se num lado totalmente oposto. Sempre usada ao longo dos anos como uma arma contra-hegemônica, em 2018 não foi diferente e muitos artistas usaram do seu espaço neste mercado para dar voz a grupos marginalizados ou expressar suas experiências como minorias. Além disso, novos nomes surgiram e mostraram força e renovação na música brasileira, casos de Duda Beat, Malli e a banda catarinense Adorável Clichê.
A música internacional também não ficou para trás, ao apresentar para o público um acervo cada vez mais inventivo. Em meio a crise das divas pop, o R&B tomou espaço e destacou-se por seu amadurecimento, trabalhos lançados por Kali Uchis, Janelle Monáe e Jorja Simth são pequenas amostras da evolução do gênero. O oriente também destacou-se mais uma vez com a consolidação dos grupos de K-pop no mercado americano, BTS e BLACKPINK foram os grandes nomes de 2018, porém, para quem acompanha o pop asiático, sabe que há outros ótimos lançamentos que não tiveram tanto destaque para o mercado fonográfico do ocidente.
É em meio a essa mistura de sonoridades que listamos as 10 melhores música de 2018, indo do pop asiático, ao cenário independe internacional e ao som produzido aqui no Brasil.
10. "Pluhmm" - HA: TFELT
HA: TFELT, nome do projeto da sul-coreana Yenny,
vem mostrando bons registros desde o seu debut como EP ME? (2014). Mas
foi no ano passado que a cantora surpreendeu a crítica coreana com o digital
single MEiNE ("Meu" em alemão). O feito novamente se repetiu
com o lançamento do registro seguinte, intitulado Deine ("Seu"
em alemão) e "Pluhmm", single de divulgação, é um dos principais
motivos para isso. Um das melhores composições da sul-coreana até agora, Pluhmm é a uma
canção que combina pinceladas de bossa-nova, guitarras ensolaradas, dudstep e
outros elementos eletrônicos. Uma mistura em aquarela de gêneros que parecem
naturalmente não dialogar entre si, mas que HA: TFELT consegue assertivamente
comprovar o contrário.
9. "Traços" - Adorável Clichê
Os catarinenses da Adorável Clichê lançaram o primeiro álbum de inéditas neste ano e acertaram em cheio ao retratarem os conflitos da transição entre a adolescência e a vida adulta de forma sincera e madura. "Traços", uma das composições escolhidas para divulgar o álbum O Que Existe Dentro de Mim, é um gostoso dream pop com riffs de guitarra desalentados, vocais ecoantes e uma atmosfera anuviada. Um sonho lúcido sobre a passagem do tempo e a inércia em querer rememorar o passado.
8.
"Azul Moderno" - Luiza Lian
As despedidas e os fins das relações amorosas nunca
são fáceis, mas, em “Azul Moderno”, Luiza Lian narra a decisão de seguir
caminhos paralelos ao romper com um antigo amor. Numa costura de ruídos,
pequenas transições eletrônicas e arranjos de corda, a cantora vai lentamente
preenchendo o silencio dos minutos iniciais com metais, uma percussão dosada e
a poesia do eu-lírico.
7. "Bédi Beat"
- DUDA BEAT
A pernambucana DUDA BEAT com certeza foi uma das
melhores revelações de 2018. Com seu álbum de estreia "Sinto Muito", a cantora conquistou rapidamente o coração do público por suas composições
marcadas pela sofrência romântica. "Bédi Beat" narra as dores que
DUDA passou por um amor descompromissado, mas longe de soar piegas ou
melancólico. A cantora, na canção, brinca com ritmos e recursos como o brega,
sintetizadores, sons eletrônicos, que surgem a cada segundo como colagens, e um
grave sedutor que se fixa no plano de fundo da canção do começo ao fim.
6.
"Genesis" - Daniela Andrade
Conhecida por seus covers de canções famosas no YouTube, como "La Vie En Rose" de Edith Piaf; "Take Care" do Beach House; e "Stay" da Rihanna; Daniela Andrade retornou neste ano com composições autorais. O último registro de inéditas da cantora foi o EP Shore (2016). Em "Genesis", Andrade entrega um trabalho que foge do repertório acústico e brinca com as batidas e a atmosfera do Chillhop. Com beats desacelerados e um sintetizador que preenche as lacunas da canção, a canadense entrega parte dos versos do single para um backvocal, deixando apenas seus vocais surgirem no refrão.
5. "love4eva (feat. Grimes) - LOONA
Enquanto o ocidente era bombardeado pelos hits de grupos de K-pop como BTS e BLACKPINK, na Coréia do Sul surge um dos grupos mais interessantes dessa nova safra do pop oriental. LOONA é um grupo composto por 12 integrantes em que cada uma delas lançou singles antes mesmo do debut oficial. Além disso, o grupo criou um mundo fictício onde as integrantes possuem suas próprias histórias e conflitos e os clips lançados dialogam narrativamente entre-se, motivo que leva os fãs a criarem teorias a cada novo lançamento do girlgroup, quase como um Game of Thrones do Kpop.
Em “love4eva” o grupo entrega uma das parcerias
mais excêntricas do K-pop. Grimes produziu para o LOONA uma canção synth-soft
do que entregou em Art Angels (2015). Com beats e sintetizadores
frenéticos, a canção explode com os recursos eletrônicos e o pop chiclete, como
se Grimes propositalmente tivesse deslizado o dedo em algum botão no processo de
mixagem para deixar a canção mais acelerada.
4. "Amor Distrai (Durin)" - Carne Doce
Carne Doce lançou neste ano um dos álbuns mais introspectivos da carreira. Recheado de composições que retratam as experiências do eu-lírico, o ouvinte quase se perde em meio a tantas referências particulares. Porém, em "Amor Distrai (Durin)", a banda explora de forma explícita e poética o sexo, o que fisga o ouvinte na primeira audição pelos versos lascivos e um arranjo menos introvertido em comparação as outras canções do disco. Selma Jô (vocalista) descreve as particularidades e ações que tornam a relação sexual mais prazerosa para ela, entregando elementos para uma construção visual dos versos entoados.
3. "Cariño" - The Marías
Os novatos do The Marías, composta pelo Josh Conway
e María, debutaram ano passado com o EP Superclean Vol. I. Neste ano,
deram continuidade ao trabalho com o volume II do EP. “Cariño”, canção escolhida
para apresentar no novo trabalho, é a mistura perfeita de um indie-rock
sofisticado, com riffs climáticos e arranjos de metais que resgatam a
sonoridade de ritmos latinos do século passado. A banda apresenta uma canção
levemente psicodélica na qual os vocais lascivos de María entoam versos
confessionais sobre um amor platônico.
2. "Summer Lover" - YMA & GAB
A parceria entre as brasileiras YMA e Gab Ferreira
rendeu um dos melhores singles deste ano. Adotando uma estética retrô, as
cantoras apresentam uma canção que fisga o ouvinte na primeira audição.
Guitarras ensolaradas, sintetizadores acanhados e vocais desalentados fazem de
“Summer Lover” uma composição melancolicamente prazerosa.
1. After The Storm (feat. Tyler The Creator & Bootsy Collins)"
- Kali Uchis
“After The Storm” foi a canção chave do Isolation para Kali Uchis torna-se motivo de atenção para além do público que já a conhecia desde o EP Por Vida (2015). Acompanhada pelo rapper Tyler The Creator e por Bootsy Collins, a colombiana constrói um soul desacelerado, de guitarras hipnóticas e distantes, um baixo bem destacado e um série de elementos que dão uma atmosfera empoeirada a faixa.
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