Resenha: The Ride - Nelly Furtado


Nelly Furtado com certeza é uma das cantoras mais versáteis do cenário pop. Em "Whoa, Nelly!" (2000), trabalho de estreia da luso-canadense, há uma forte presença do R&B e do Soul, já no segundo trabalho, "Folklore" (2003), Nelly decide mergulhar nas raízes musicais do país em que nasceu, Portugual. Mas não para por aí, "Loose" (2006) é a era mais marcante da cantora. Com a produção de Timbaland, ela alcança o topo das paradas e entra pro escalão de divas do pop com faixas recheadas de batidas dançantes, porém tudo isso é momentâneo. O sucesso de "Loose" não se repete em "Mi Plain" (2009), álbum composto só por músicas em espanhol e que apresenta canções românticas, singelas e gostosas de se ouvir. 

Depois de toda as mudanças na discografia e as dificuldades em emplacar novamente nos charts, Furtado resolve, em "The Spirit Indestructible" (2012), reviver a fórmula testada em "Loose" e, assim, reerguer-se no cenário mainstream. Todavia, não foi isso o que aconteceu, e felizmente não aconteceu. 

O quinto álbum de Nelly foi sua estreia como produtora do próprio registro de inéditas. E, embora não tenha voltado para as altas posições nas paradas musicais, conseguiu dar os primeiros passos para novas sonoridades as quais iria testar futuramente. Um revival do que já foi produzido com Timbaland? Não. "The Spirit Indestructible" conseguiu ser autêntico, uma obra que diferencia-se dentro da discografia da cantora e, em certos momentos, soa até exótico (como não amar aqueles vocais anasalados?). É nele que percebemos o despertar do desinteresse de Furtado em voltar a ser considerada como uma grande diva do pop. "The Spirit Indestructible" foi um experimento, com algumas falhas, mas que deu bases para o que estaria por vir.  

Assim, depois de cinco anos, Nelly Furtado retorna renovada, não muito interessada em atender às expectativas de um mercado no qual já se sustentou anteriormente. Dessa vez, a luso-canadense volta-se para um cenário mais independente, flertando com artistas como Blood Orange, uma das muitas influências para o novo trabalho da cantora e produtora. "The Ride" (2017), o novo disco de inéditas de Nelly, é a concretização do que já foi inicialmente experimentado no trabalho antecessor, embora mais consistente, certeiro com a proposta apresentada, mesmo que, ao longo da audição, torna-se morno.  

"Cold Hard Truth", "Flatline", "Carnival Games" e "Live" iniciam o álbum com êxito. Enquanto as duas primeiras caminham por arranjos sintéticos, com baterias robóticas, sintetizadores, refrãos pegajosos e cheias de gás, são as principais responsáveis por aguçar a curiosidade do ouvinte em mergulhar no novo catálogo. "Carnival Games" parece estagnar um pouco o crescimento do disco com seu ritmo mais lento e sua pegada mais orgânica. Já em "Live", Nelly retoma o fôlego e apresenta mais uma gostosa canção pop sintetizada, de melodia fácil e letra repetitiva. 

A partir daí, Nelly oscila entre canções interessantes e mornas. A sonoridade explorada nas duas primeiras canções é deixada de lado e a luso-canadense decepciona para quem esperava mais da pegada eletrônica e experimental das canções disponibilizadas antes do lançamento do álbum. Além disso, "Piper Dreams", melhor faixa do álbum, com toda sua letargia e atmosfera onírica, parece deslocada dentro do catálogo apresentado, o que a faz passar despercebida, já que sua quebra rítmica entre as 11 faixas de nada enriquece o novo trabalho da cantora.  

"The Ride" consegue ser consistente com a proposta testada, porém não é tão atrativo. Faltou mais força, mais elementos que surpreendessem durante os quase quarenta e seis minutos de audição. Algumas faixas empolgam, outras parecem empacar o desenvolvimento do disco e outras, "Piper Dreams, por exemplo, são mal aproveitadas. Mas fica como um registro aceitável para quem esperava há cinco anos por algo novo da Nelly Furtado.



 
Nota: 6
Gravadora: Nelstar
Faixas: 11
Ouça: Spotify


 

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