Degustando Sonoridades: dos covers no YouTube ao chillhop, conheça Daniela Andrade

Fonte: Reprodução/Facebook

É inegável a influência que hoje o YouTube exerce sobre a música. A plataforma é um dos principais canais de propagação de gêneros até então marginalizados e até mesmo da fomentação de novos subgêneros, casos do Lo-Fi/Hip-Hop.

Mas muito antes desse fenômeno, a tendência era a dos usuários que aproveitavam a visibilidade oferecida pela plataforma para disponibilizarem, em seus canais, covers de músicas consagradas ou que estavam no topo dos charts.

Lá em meados de 2009, a canadense Daniela Andrade aproveitou desse espaço para mostrar ao mundo o talento que tem em dar novas formas a singles mundialmente conhecidos. Em seu quarto mal iluminado, na sala do seu apartamento ou dividindo o plano da câmara com amigos, a canadense, acompanhada de um violão, entoava os versos de canções como "Fly To The Moon do Frank" Sinatra, "All My Loving do" The Beatles ou sucessos do grupo ABBA. Tudo feito de forma caseira para ser publicado em seu canal.


Os vocais adocicados de Andrade logo foram caindo na graça dos consumidores desse tipo de conteúdo. O principal responsável disso é a sua versão para "La Vie En Rose", da francesa Edith Piaf, disponibilizado em 2014, e que hoje contabiliza quase 50 milhões de visualizações. A partir daí a canadense viu seu canal crescer e um séquito de fãs apaixonados pelo trabalho dela surgiu. Atualmente, a musicista possui 1,8 milhões de inscritos.




Primeiro EP

Fonte: Reprodução/Facebook

E foi com seus covers tão adorados pelo público que Daniela conseguiu ir além da plataforma. A cantora, em 2016, lançou seu primeiro EP com músicas autorais, intitulado Shore. Sem esquecer-se dos fãs que a acompanham desde o YouTube, a canadense tornou o pequeno registro em um trabalho visual. São quatro canções em que cada uma é acompanhada de um videoclipe cuidadosamente produzido. No pequeno catálogo, Andrade lida com problemáticas do amor nos tempos do século 21, onde a tecnologia torna quase que dispensável a presença dos corpos.

Musicalmente, o EP mantém a mesma estrutura acústica já presente em seus vídeos disponibilizados na internet. São arranjos que fogem dos excessos para dar destaque aquilo que sempre foi o carro-chefe da carreira de Andrade: a sua voz. Há inserções de metais, transições eletrônicas e sintetizadores morosos, além de uma bateria arrastada. Uma moldura para os sentimentos desesperançosos que marcam os versos.



Próximo EP

Imergindo ainda mais na produção de trabalhos autorais, a canadense vem preparando o terreno para seu segundo EP, intitulado Tamale, com previsão de lançamento ainda para este semestre. Desde o ano passado, Andrade foi lapidando a própria imagem para se enquadrar num perfil mais autêntico e profissional, recortando as pequenas bordas do amadorismo que sobraram dos seus covers. Ela já lançou quatro singles do novo trabalho: “Genesis”, “Sometimes I Don’t”, “Polly Pocket” e “Wet Dreams”.

São produções que direcionam a canadense para um Bedroom Pop recheado por um R&B onírico e minimalista. Há pitadas também de jazz aqui, caso de “Wet Dreams”, e até um flerte com o chillhop que é sucesso no YouTube atualmente, “Genesis”, por exemplo. São canções facilmente assimiladas por ouvintes de artistas como Cuco, Clairo ou Billie Eilish, embora haja mais colorido na musicalidade de Andrade.

No processo criativo de encontrar a si mesma em meio a tanto material não autoral, Daniela Andrade resolveu recolher-se e resgatar suas experiências para transformá-las em canções. Enquanto isso, a canadense agracia o ouvinte com experimentos singelos, mas devidamente pensados.


Degustando Sonoridades: Gestos - Dramón





Dramón, projeto do musicista e design Renan Vasconcelos, lançou ano passado o EP Ansiedade Morta, registro que transporta o ouvinte para um universo onde o stress e a ansiedade são lentamente apaziguados. Materializado por meio de colagens de imagens de Búzios, Los Angeles e São Paulo, Renan dá vida ao clip para faixa “Gestos”, presente no EP.

“Esse é o quadro que pintei de algumas paisagens caiçaras. Afoguei-me nessa faixa”, relata o musicista sobre o processo de produção do vídeo. “Ele reflete bem a calmaria, e a introspecção que eu busco no meu trabalho”, completou.   
“Gestos” é um experimento de ruídos, sons ambientes, texturas densas e sintetizadores obscuros. Uma dose sonora para desliga-se das angustias cotidianas.

“Ansiedade Morta” está disponível nas plataformas de streaming musical e para download no Bandcamp via Sinewave.   


Degustando Sonoridades: Ainda Bem - Tai



“Ainda bem que você vai voltar/ Ainda bem que eu te tenho”, repete a cantora e compositora Tai em seu primeiro single em carreira solo, intitulado “Ainda Bem”. Marcada pela poesia reflexiva da cantora, a faixa é uma imersão nas narrativas dolorosas dos amores distantes geograficamente, mas que se mantém vivos pela esperança de um (r)encontro. 


Após mais de seis anos participando de diversas bandas, Tai finalmente encontrou o espaço que tanto almejou para expressar o seu eu-lírico. “Sempre tive medo de mostrar as músicas pro pessoal de todas as bandas. Já com minha última banda, me sentia reprimida de todas as formas, tanto o lado poético, criativo, estético, enfim”, confessa.  


É nesse momento de liberdade artística que a cantora sutilmente abre-se para contar pequenas histórias do seu cotidiano, sejam de si mesma ou de pessoas em sua volta. “Ainda Bem” soa como uma canção de ninar, embalada pelos vocais doces de Tai e um arranjo delicado, de cordas acalentadas e sintetizadores que sutilmente surgem para compor uma atmosfera serena. 


Assista ao lyric video de “Ainda Bem”:


Receita: As 10 Melhores Músicas de 2018



No ano marcado por discursos e atos de ódio devido às eleições, a música brasileira mostrou-se num lado totalmente oposto. Sempre usada ao longo dos anos como uma arma contra-hegemônica, em 2018 não foi diferente e muitos artistas usaram do seu espaço neste mercado para dar voz a grupos marginalizados ou expressar suas experiências como minorias. Além disso, novos nomes surgiram e mostraram força e renovação na música brasileira, casos de Duda Beat, Malli e a banda catarinense Adorável Clichê. 

A música internacional também não ficou para trás, ao apresentar para o público um acervo cada vez mais inventivo. Em meio a crise das divas pop, o R&B tomou espaço e destacou-se por seu amadurecimento, trabalhos lançados por Kali Uchis, Janelle Monáe e Jorja Simth são pequenas amostras da evolução do gênero. O oriente também destacou-se mais uma vez com a consolidação dos grupos de K-pop no mercado americano, BTS e BLACKPINK foram os grandes nomes de 2018, porém, para quem acompanha o pop asiático, sabe que há outros ótimos lançamentos que não tiveram tanto destaque para o mercado fonográfico do ocidente. 

É em meio a essa mistura de sonoridades que listamos as 10 melhores música de 2018, indo do pop asiático, ao cenário independe internacional e ao som produzido aqui no Brasil. 

10. "Pluhmm" - HA: TFELT  

                                           

HA: TFELT, nome do projeto da sul-coreana Yenny, vem mostrando bons registros desde o seu debut como EP ME? (2014). Mas foi no ano passado que a cantora surpreendeu a crítica coreana com o digital single MEiNE ("Meu" em alemão). O feito novamente se repetiu com o lançamento do registro seguinte, intitulado Deine ("Seu" em alemão) e "Pluhmm", single de divulgação, é um dos principais motivos para isso. Um das melhores composições da sul-coreana até agora, Pluhmm é a uma canção que combina pinceladas de bossa-nova, guitarras ensolaradas, dudstep e outros elementos eletrônicos. Uma mistura em aquarela de gêneros que parecem naturalmente não dialogar entre si, mas que HA: TFELT consegue assertivamente comprovar o contrário.   

9. "Traços" - Adorável Clichê 


Os catarinenses da Adorável Clichê lançaram o primeiro álbum de inéditas neste ano e acertaram em cheio ao retratarem os conflitos da transição entre a adolescência e a vida adulta de forma sincera e madura. "Traços", uma das composições escolhidas para divulgar o álbum O Que Existe Dentro de Mim, é um gostoso dream pop com riffs de guitarra desalentados, vocais ecoantes e uma atmosfera anuviada. Um sonho lúcido sobre a passagem do tempo e a inércia em querer rememorar o passado. 


8. "Azul Moderno" - Luiza Lian


As despedidas e os fins das relações amorosas nunca são fáceis, mas, em “Azul Moderno”, Luiza Lian narra a decisão de seguir caminhos paralelos ao romper com um antigo amor. Numa costura de ruídos, pequenas transições eletrônicas e arranjos de corda, a cantora vai lentamente preenchendo o silencio dos minutos iniciais com metais, uma percussão dosada e a poesia do eu-lírico.  

7. "Bédi Beat" - DUDA BEAT

 
A pernambucana DUDA BEAT com certeza foi uma das melhores revelações de 2018. Com seu álbum de estreia "Sinto Muito", a cantora conquistou rapidamente o coração do público por suas composições marcadas pela sofrência romântica. "Bédi Beat" narra as dores que DUDA passou por um amor descompromissado, mas longe de soar piegas ou melancólico. A cantora, na canção, brinca com ritmos e recursos como o brega, sintetizadores, sons eletrônicos, que surgem a cada segundo como colagens, e um grave sedutor que se fixa no plano de fundo da canção do começo ao fim. 

6. "Genesis" - Daniela Andrade



Conhecida por seus covers de canções famosas no YouTube, como "La Vie En Rose" de Edith Piaf; "Take Care" do Beach House; e "Stay" da Rihanna; Daniela Andrade retornou neste ano com composições autorais. O último registro de inéditas da cantora foi o EP Shore (2016). Em "Genesis", Andrade entrega um trabalho que foge do repertório acústico e brinca com as batidas e a atmosfera do Chillhop. Com beats desacelerados e um sintetizador que preenche as lacunas da canção, a canadense entrega parte dos versos do single para um backvocal, deixando apenas seus vocais surgirem no refrão.

5. "love4eva (feat. Grimes) - LOONA
  

Enquanto o ocidente era bombardeado pelos hits de grupos de K-pop como BTS e BLACKPINK, na Coréia do Sul surge um dos grupos mais interessantes dessa nova safra do pop oriental. LOONA é um grupo composto por 12 integrantes em que cada uma delas lançou singles antes mesmo do debut oficial. Além disso, o grupo criou um mundo fictício onde as integrantes possuem suas próprias histórias e conflitos e os clips lançados dialogam narrativamente entre-se, motivo que leva os fãs a criarem teorias a cada novo lançamento do girlgroup, quase como um Game of Thrones do Kpop.

Em “love4eva” o grupo entrega uma das parcerias mais excêntricas do K-pop. Grimes produziu para o LOONA uma canção synth-soft do que entregou em Art Angels (2015). Com beats e sintetizadores frenéticos, a canção explode com os recursos eletrônicos e o pop chiclete, como se Grimes propositalmente tivesse deslizado o dedo em algum botão no processo de mixagem para deixar a canção mais acelerada. 

4. "Amor Distrai (Durin)" - Carne Doce

Carne Doce lançou neste ano um dos álbuns mais introspectivos da carreira. Recheado de composições que retratam as experiências do eu-lírico, o ouvinte quase se perde em meio a tantas referências particulares. Porém, em "Amor Distrai (Durin)", a banda explora de forma explícita e poética o sexo, o que fisga o ouvinte na primeira audição pelos versos lascivos e um arranjo menos introvertido em comparação as outras canções do disco. Selma Jô (vocalista) descreve as particularidades e ações que tornam a relação sexual mais prazerosa para ela, entregando elementos para uma construção visual dos versos entoados.   

3. "Cariño" - The Marías 

 
Os novatos do The Marías, composta pelo Josh Conway e María, debutaram ano passado com o EP Superclean Vol. I. Neste ano, deram continuidade ao trabalho com o volume II do EP. “Cariño”, canção escolhida para apresentar no novo trabalho, é a mistura perfeita de um indie-rock sofisticado, com riffs climáticos e arranjos de metais que resgatam a sonoridade de ritmos latinos do século passado. A banda apresenta uma canção levemente psicodélica na qual os vocais lascivos de María entoam versos confessionais sobre um amor platônico. 

2. "Summer Lover" - YMA & GAB

 
A parceria entre as brasileiras YMA e Gab Ferreira rendeu um dos melhores singles deste ano. Adotando uma estética retrô, as cantoras apresentam uma canção que fisga o ouvinte na primeira audição. Guitarras ensolaradas, sintetizadores acanhados e vocais desalentados fazem de “Summer Lover” uma composição melancolicamente prazerosa. 

1. After The Storm (feat. Tyler The Creator & Bootsy Collins)" - Kali Uchis


 “After The Storm” foi a canção chave do Isolation para Kali Uchis torna-se motivo de atenção para além do público que já a conhecia desde o EP Por Vida (2015). Acompanhada pelo rapper Tyler The Creator e por Bootsy Collins, a colombiana constrói um soul desacelerado, de guitarras hipnóticas e distantes, um baixo bem destacado e um série de elementos que dão uma atmosfera empoeirada a faixa.

Degustando Sonoridades: Cariño - The Marías



Com um ano desde o lançamento do ótimo EP de estreia, Superclean Vol. I, a banda formada pelo casal Josh Conway e a porto-riquenha Atlanta-raised María, já prepara o público para o volume II do EP, que tem previsão de lançamento para o mês de setembro deste ano. 

Para acalmar a ansiedade do público, os The Marías já divulgaram o first single do próximo registro. Intitulado Cariño, a banda sintetiza boa parte do som testado no trabalho lançado ano passado. Na mistura de um indie-rock sofisticado, com riffs climáticos e arranjos de metais que resgatam a sonoridade de ritmos latinos do século passado, a banda apresenta uma canção levemente psicodélica na qual os vocais lascivos de María entoam versos confessionais sobre um amor platônico.