Resenha: HA: TFELT - Me?


HA: TFELT é pseudônimo do primeiro projeto solo da sul-coreana Park YeEun, conhecida por ser uma das integrantes do famoso grupo de Kpop Wonder Girls. As siglas "HA" e "TFELT" são abreviações das palavras "heart" e "felt"mais a junção da palavra "hot" e, no sentindo poético, segundo YeEun, significa "sincero" e "quente". Seu EP de debut intitulado "Me?" foi lançado no dia 31 de julho, contendo sete faixas e tendo como single promocional a canção "Ain't Nobody".

YeEun foge de toda a superficialidade presente nos artistas do pop coreano. Além de ser uma cantora com belo um potencial vocal, ela também compõe, produz e já fez arranjos para algumas músicas, talentos que não são muito presentes no mercado musical pop da Coréia. E no seu primeiro álbum solo não seria diferente. A cantora enfrentou a própria gravadora escrevendo todas as músicas e escolhendo a faixa "Ain't Nobody" como single, tais comportamentos não agradaram muito bem seu agenciador, o famoso JYP, que já havia contatado um grupo de compositores para ajudá-la e escolhido uma das sete faixas para ser single, entretanto YeEun alegou que precisava expressar o seu "eu' artístico, mostrar quem realmente era como cantora e compositora e, por isso, era necessário ter essa independência em seu trabalho. E deu certo.



"Me?", com seus poucos mais de vinte sete minutos de duração, retrata a trajetora sobre autoconhecimento, das memórias de relacionamentos passados, da melancolia e solidão causadas pelos términos de namoros, temáticas já rotineiras dentro da música pop, mas em HA: TFELT há um tom sincero, desnudo de qualquer exagero ou plasticidade, é a manifestação mais pura dos sentimentos de Park que caminham por sonoridades já conhecidas, mas que não deixam de arrebatar o ouvinte por suas melodias simples e agradáveis. 

"Iron Girl" é a faixa de abertura, uma colaboração com a amiga Lim, também integrante do girlgroup Wonder Girls. Trazendo uma sonoridade pop-rock e mesclando com a levada mais acústica do violão, o espaço é preenchido pela guitarra e bateria, dando ênfase ao empoderamento para a mensagem aqui trabalhada: "Ninguém pode quebrar meu coração, você vê isso
?". 

"Truth" e "Ain't Nobody" seguem contrariando a faixa inicial. Aqui Yenny - ou YeEun - acaba conhecendo um lado seu, anteriormente, ignorado, o medo do rompimento amoroso e o sofrimento causado por ele. A primeira faixa, assim como a letra, mergulha no desespero e angustia, apresentando uma sonoridade mais densa, negativa. Nos primeiros segundos já é notório o que "Truth" irá apresentar, as batidas e os efeitos eletrônicos dão um tom misterioso à melodia e encaminham assertivamente o ouvinte ao refrão climático, recheado por um violino e as nota altas de Park. A segunda, por sua vez, segue complementando a anterior, agora a verdade foi dita e medo da espaço para a solidão. A canção inicia-se mais intimista com a melodia do piano, as batidas mais tímidas e os vocais mansos da coreana, no refrão, "Ain't Nobody" mergulha nos frenéticos BPMs do dubstep e a interprete entoa os versos jogando para fora todo seu desespero. É óbvio, ao ouvi-la, que "Ain't Nobody" foi a melhor escolha para single pois, mescla todas as sonoridades propostas com a temática do EP, indo das melodias intimistas, utilizando-se das batidas eletrônicas e abordando a solidão pós-rompimento.  


HA: TFELT não apresenta apenas amarguras, mas vai além, resgatando lembranças, é um mergulho nas memórias agridoces. Como em "Wherever Together", uma balada com uma roupagem house-progressivo onde as batidas gradativamente se tornam explosivas, embora mantenha uma suavidade na sonoridade. A faixa soa como um êxtase e por mais dançante que seja ainda mantém o toque doce e sereno. E como em "Peter Pan", com certeza é uma das melhores faixas do EP - e a minha também -, destaca-se pelo seu arranjo de cordas, conseguindo fisgar rapidamente a atenção do ouvinte. O violão, a guitarra e o flerte com o folk dão um clima bucólico e nostálgico e tornam esse um dos momentos mais agradáveis e sentimentais de "Me?". É quase impossível não se conectar com a melodia dessa faixa que cria o plano de fundo para o desejo de YeEun a voltar a ser criança para não lidar com as problemáticas da vida adulta.

Por fim, "Nothing Last Forever" encerra o EP. A canção apresenta os sentimentos de conformidade com o fim do relacionamento, embora a melancolia ainda esteja presente. A sonoridade intimista ocupada todo o espaço de quase mais de cinco minutos, tudo minimamente delicado, as notas adocicadas do piano, a percussão mais letárgica e os vocais abafados dando uma sonoridade Lo-Fi. É o momento mais acinzentada de "Me?" e mais puro.



Embora exista acertos, HA: TFELT peca em alguns quesitos. Isso é perceptível principalmente em "Bond" que foge, tanto em questão de sonoridade e letra, da proposta do EP. O outro quesito é a previsibilidade, as canções poderiam apresentar arranjos mais desenvolvidos, apresentando elementos que pudessem dar o toque a mais às faixas e surpreendesse o ouvinte, todavia, por mais que as melodias sejam agradáveis, ainda transitam em formulas conhecidas tornando os vinte sete minutos de canções, às vezes, preguiçosos.

Com isso, o primeiro trabalho solo de Park YeEun mostra o lado artístico da cantora escondido por mais de sete anos em trabalhos voltados para as Wonder Girls. HA: TFELT é sincero e sem pieguices ao retratar seus sofrimentos, suas amarguras e seu percurso de autoconhecimento. Nesse projeto se encontra o primeiro passo de uma garota dedicada a mostrar sua capacidade como artista, de pôr para fora toda a sua experiência de vida através da música e impor seu talento dentro de um mercado extremamente focado em vendas e charts. Embora certos erros estejam presentes em "Me?", é preciso compreender que esse é o primeiro passo de uma sul-coreana em processo de amadurecimento artístico e de autonomia em seus trabalhos e, com certeza, irá nos presentear com trabalhos ainda melhores e bem mais explorados.



Gravadora: JYP Entertainment
Nota: 7.0
Faixas: 7
Ouça: Youtube



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