"Caetano Veloso" é o nome do primeiro álbum solo do cantor baiano Caetano Veloso, gravado e lançado em 1967 pela gravadora Philips Records. O disco é um marco na música brasileira, pois foi o percursor de uma revolução estética na música nacional, que aproximou o pop internacional com os gêneros típicos brasileiros, o movimento tropicália. Trazendo 12 canções, algumas delas compostas por Caetano em parceria com Gilberto Gil, e com arranjos feitos por Julio Medaglia, o álbum vendeu cerca de 100 mil cópias, número alto para época, e é considerado um dos melhores de toda a discografia de Caetano.
Caetano Veloso não é considerado um grande artista brasileiro à toa. Em um momento onde a bossa-nova era exaltada e qualquer influência/elemento da música estrangeira era considerado como descartável, Caetano ousou e mostrou ao público elitista daquela época que há sim como unir o popular ao conceitual. O seu primeiro álbum solo é o experimento mais coeso dessa mistura. Nele, a genialidade de Caetano viaja entre ritmos como baião, bolero, o samba, a bossa-nova, o rock e até por influências latinas. É nesse recheio de misturas que se compõe o álbum o qual daria origem ao Tropicalismo.
O disco percorre fazendo críticas ocultas ao sistema político e faz contrastes do cenário brasileiro da época, elementos característicos do Tropicalismo. Tudo isso em canções que trazem melodias diversificadas, que, em certos momentos, conseguem dar um tom sarcástico às faixas, como em "Êles", em outros, insere o ouvinte um universo mais suave, mais melódico, como na poética "Clarice" e em "Clara", parceria com Gal Costa. "Alegria, Alegria" é a canção mais icônica do álbum. Graças à ela, o baiano conseguiu emplacar nas rádios, após uma apresentação no festival de música produzido pela TV Record, tudo isso devido seu apelo mais pop onde a guitarra elétrica se faz presente e, assim, atraindo o público jovem da época. Nessa canção, Caetano faz um destaque de como a sociedade do fim da década de 1960 lida com o regime político do momento, a Ditadura Militar. A conformidade da população, a manipulação da mídia, a violência mascarada, etc, são uns dos tópicos abordados em "Alegria, Alegria" e tudo isso embalado em um som nostálgico que transborda uma agradável monotonia.
O registro ainda explora outros universos. A música nordestina é valorizada e em diversos momentos do álbum é possível ouvir elementos típicos da região, como o triângulo e a sanfona. "Tropicália", o abre-alas do disco, em todo seu tom solene, mergulha no som folclórico do nordeste e explana ao ouvinte a riqueza desses ritmos regionais. Os gêneros latinos também são trabalhados em "Caetano Veloso", a faixa "Onde Andarás", gravada a pedidos de Maria Bethânia, é um bolero que traz uma delicadeza e suavidade em sua sonoridade. Em "Soy Loco Por Ti, America", uma das músicas mais conhecidas de toda sua discografia, Caetano mostra o seu espanhol e entrega um arranjo dançante, com uma percussão frenético, um hammond agitado e, com isso, completa o seu primeiro trabalho solo com uma canção energética e cheia de ritmo.
É extremamente envolvente a riqueza de instrumentos presentes nesse álbum, desde violinos, instrumentos de sopro, a percussão do samba e bossa-nova, os instrumentos regionais, a guitarra elétrica, etc. Todo esse arsenal tornam o primeiro trabalho solo de Caetano em um colorido de sonoridades e ritmos perfeitamente explorados, mesclando sons apostos como, a bossa nova x baião, o bolero x o samba, pop x folclórico, rock x os gêneros brasileiros, etc. Por conta dessa mistura de ritmos, “Caetano Veloso (1967)” consegue ser tão atrativo desde suas primeiras faixas e aproxima o ouvinte para um universo ousado, festivo e, por isso, na época de seu lançamento, rompe com a cultura elitista da década de 60, que defendia a soberania dos ritmos brasileiros e condenava qualquer elemento da música estrangeira.
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Eu amo o Caê!
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