Yenny, ou também Yeeun, é uma cantora sul-coreana que integrou por longos 10 anos o famoso girlgroup de música pop coreana Wonder Girls. Durante a carreira no grupo, Yeeun foi cercada por hits, aclamação do público e, infelizmente, imposições de sua agência, transformando-a em uma pequena peça da engrenagem do grande mercado do K-pop. Porém, nos últimos anos de atividades das Wonder Girls, a cantora e suas companheiras puderam ter mais liberdade artística. O último álbum, Reboot (2015), com exceção do first single, foi todo produzido por ela e as outras integrantes, assim como o digital single Why So Lonely (2016), composto por três faixas de total autoria das garotas.
Em 2017, veio o anúncio do fim do grupo e cada integrante separou-se para dar início aos seus trabalhos solos. No caso de Yenny, ela já havia lançado em 2014 o EP Me?, pelo seu pseudônimo HA:TFELT, no qual explorou a sua autonomia como musicista e deixou evidente que ela não se resumia apenas a uma integrante de uma girlband.
Além de cantora, a sul-coreana é compositora e instrumentista e, desde o primeiro registro em carreira solo, mostrou-se estar no controle da liderança no processo de criação e produção de seus trabalhos. Isso ficou mais solidificado para os fãs, o público em geral e até a própria crítica coreana com o lançamento do seu digital single MEiNE (2017), que significa "meu" em alemão. Livre da sua antiga agência e do mercado mainstream da Coreia do Sul, Yeeun materializou seu próprio universo e anseio artístico em duas delicadas faixas, I Wander e Read Me, canções sem pretensões comerciais, ainda que use de alguns elementos do cenário, mas tudo de uma forma criativa e sem soar genérica. I Wander vai lentamente abrindo espaço para os riffs de guitarra, estalos de dedos e pequenas batidas, quase soando como um versão acústica. Porém, o brilho deste registro fica para a segunda faixa, Read Me, onde o teclado, os estalos e as batidas envolvem-se em uma forma harmônica para acompanhar o vocal manso de Yenny, incrementado por uma leve dramaticidade com o arranjo de cordas.
Em MEiNE, a sul-coreana não repete os exageros dos hits de seu ex-grupo. Há uma preocupação na delicadeza dos arranjos, principalmente porque as canções retratam o momento de rompimento da cantora com seu antigo trabalho, as Wonder Girls, para trilhar novos caminhos. As inseguranças e os medos de Yeeun devido ao fim do grupo são estampados nas letras, que vêm acompanhadas de roupagens que dão formas aos sentimentos carregados por ela, ao mesmo tempo que a encorajam para enfrentar as futuras dificuldades como uma artista solo.
As mesmas preocupações com os arranjos estão presentes em Deine (2018), segundo digital single do projeto HAT:FELT. Cada elemento vem em doses medidas, evitando excessos que podem desarmonizá-los. Os sintetizadores atmosféricos, as batidas robóticas e as batidas de dubstep, os acanhados riffs de guitarra e os sussurros que preenchem as duas canções transitam em uma zona branda e também delicada.
Pluhmm, primeira canção do novo trabalho e também o single de divulgação, apresenta sem rodeios um arranjo que se alimentam de recursos do cenário comercial, mas modelados em uma forma criativa e não genérica. Enquanto em MEiNE a cantora estava fechada em seu íntimo, nessa canção ela se mostra livre dos medos de outrora e curiosa para tomar conhecimento do que o seu público quer. Cigar, segunda faixa, abre com sintetizadores que criam uma atmosfera intangível, que soa quase rarefeita, mas logo divide espaço para as batidas palpáveis do dubstep. É um universo de ecos sintéticos no qual os vocais de Yenny conduzem o ouvinte.
O que torna esse registro diferente do anterior são as composições e as fontes nas quais a coreana recorre para construir seu trabalho. Pluhmm vem com algumas doses da sonoridade volúvel e sutil da bossa-nova, faz referência ao filme Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), enquanto a letra mostra o lado lascivo e sensual de Yenny. Não é por acaso que a palavra Deine, "seu" em alemão, foi escolhida como título deste trabalho. Após enfrentar os medos e as inseguranças, HA:TFELT quer entregar-se ao público e criar canções que atendam aos anseios dos seus fãs, mas, claro, sem deixar sua criatividade e autonomia artística de lado.
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