Há muito se ouve por ai dizer que nossa música não é mais a mesma, nossos artistas não possuem a mesma qualidade e nossas músicas estão se tornando cada vez mais triviais. Opinião é algo que devemos respeitar, todavia, observamos essas mesmas pessoas (que tanto julgam) se acomodarem a acreditar que a música atual se limita apenas aos sons tocados pelas rádios ou se prenderem em trabalhos das décadas passadas. Pois bem, o Música na Mesa em seu primeiro post da coluna "Degustando Sonoridades" irá falar sobre duas novas artistas brasileiras do cenário independente e seus respectivos álbuns para comprovar a qualidade ainda existente na nossa música.
A primeira de todas é
a queridíssima Nana. Cantora e compositora nascida na Bahia, cursou jornalismo
e fez intercâmbio na Rússia. Foi lá que junto com alguns amigos gravou quatro
canções deixando, assim, a música falar mais alto. O seu primeiro álbum de
estúdio foi lançado ano passado e é intitulado: “Pequenas Margaridas”. Todas as
letras são de autoria própria e as bases instrumentais das músicas foram
gravadas por ela mesma em seu quarto.
O álbum é recheado de composições sobre
relacionamentos, decepções e declarações amorosas e saudade. Tudo que uma
pessoa romântica ia amar, mas ao longo do disco é perceptível que a cantora
esconde toda a dor causada por esses sentimentos por trás de um som doce
acinzentado, acompanhado por seus vocais meigo e calmo. Nana transmite tudo isso através de
sonoridades já conhecidas como a bossa nova, MPB, o samba e até as batidas do
funk, misturando todo esse tempero em um pop prazeroso e original que mais parece açúcar
em forma de canção. O disco mostra também outras influências, em o "Céu de Estocolmo", a baiana anda pelas guitarras e sonoridades da Jovem Guarda, dando uma roupagem mais pop e moderna. Já na faixa "O Calor", Nana mostra seu lado sombrio com melodias mais densas e uma composição mais "psicótica".
O disco possui 13 faixas sendo duas delas em inglês, Let’s Dance Again e o gostoso sambinha, onde a baiana declara que não quer se apaixonar mesmo a pessoa sendo
irresistível, I Can’t Fall in Love. Destaque
para as faixas Montanha Russa, onde
Nana se utiliza das batidas suavizadas do funk e o grudento
pop/bossa-nova de expressionismo alemão.
Se você curte algo mais divertido e descontraído, englobados em um som animado e dançante, então “Batuk Freak” da rapper Karol Conká é o álbum ideal para você. Karol é curtibana e vem vivendo do rap desde 2002, mas foi ano passado que seu primeiro álbum saiu. “Batuk Freak” é uma verdadeira festa onde a rapper, além de se utilizar do hip-hop/rap, também mistura gêneros como axé, funk, afrobeat e principalmente o eletrônico. A curitibana utiliza em suas músicas bases pré-gravadas, os famosos samplers, dando vida a canções que abordam temas do cotidiano como festas, superação de fim de relacionamento e a rotina de casais amorosos e do povo das favelas. Com rimas muito bem colocadas e versos comprovando o poder já existente da mulher no rap, Karol não se limita só ao mundo do hip-hop, mas vai em busca de novos sons, dando vida a faixas que nos remetem às influências do samba, MPB e até arrisca em refrãos pegajosos característicos do pop.
Em “Boa Noite”, a décima primeira faixa do álbum, a curitibana joga a sua rima descontraída em cima de uma base pré-gravada de música afro-brasileira que ao longo da faixa se misturam, tornando-se uma dançante e divertida canção com originalidade e criatividade, mostrando que samplers não são sinônimo de plágio ou de artistas sem ideias próprias. Destaque para as faixas “Gueto ao Luxo” com batidas do axé e bases eletrônicas, a já falada “Boa Noite”, o rap de superação de um fim de relacionamento “Você Não Vai”, a grudenta e dançante “Gandaia” e o cover do samba de raiz de Almir Guineto misturando ao eletro-funk “Caxambu”.
Essas duas mulheres
não tem destaque nas grandes mídias e nem possuem selos de grandes gravadoras,
mas não se deixam levar pelos sons repetitivos e pré-fabricados impostos por
boa parte da indústria musical. Talvez elas não lhe agradem pelo gênero no qual
trabalham, mas são a prova da existência
de artistas brasileiros de personalidade e qualidade e batalham
todos os dias para mostrar isso. A música brasileira ainda é rica e existem
incontáveis artistas atuais que provam isso, embora muito de nós estejam
inertes aos trabalhos de artistas americanos ou ainda não acordamos da década
de 80 e saímos por ai equivocadamente a declarar que a música do nosso país não
é mais a mesma.
"Ainda não acordamos da década de 80 e saímos por ai equivocadamente a declarar que a música do nosso país não é mais a mesma". Um belo resumo do pensamento de muitos!
ResponderExcluirOs anos 80 tiveram seu charme, a música foi completamente influenciada pelo contexto brasileiro (alô ditadura) e todos vangloriam esse período por isso, pelo charme da ditadura. Porém, não podemos viver do passado e esquecer que a produção (e liberdade) musical brasileira está no seu ápice, e eu arriscaria dizer que este é um dos melhores momentos para a música brasileira.
Ah, adorei a coluna, me convenceu a escutar Karol Conka ;)
Que lindo <3 Obrigado pelos elogios e espero que goste da Karol =)
Excluirachei muito bom, continue a escrever serei sua fã numero 1
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